Crueza, sutileza, profundidade e detalhismo. É que que se encontra neste disco
Meados de 1998. O CD já existia há um considerável tempo, mas, ao menos aqui em Vitória da Conquista, ainda começava a se popularizar. Eram caríssimos para um garoto de 16 anos como eu. Meus pais haviam comprado um micro-system recentemente, e sequer deixavam que eu mexesse nele quando não estivessem em casa. Como era rato de banca de revista, lia bastante, principalmente Superinteressante, a minha revista favorita à época. Ainda lia bastante Turma da Mônica, Disney, etc. Nas revistas da editora Abril havia sempre informações sobre um tal Musiclub. Você deveria comprar quatro CDs a um preço promocional, e então seria sócio do clube. Os CDs chegariam em casa. Desde os tempos do chocolate Surpresa, adorava receber encomendas pelos Correios. Ainda adoro. Então de tempos em tempos chegavam catálogos de CD e, ocasionalmente, também chegavam meus primeiros CDs.
Não me lembro muito bem, mas acho que esse CD era um dos quatro "pioneiros". Eu só conhecia conscientemente a óbvia Every Breath You Take, mas, tal qual o meu primeiro CD do Led Zeppelin, fui com a cara desse inglês e confiei arriscar uma pequena fortuna comprando um disco em que não fazia ideia do que encontrar, além daquela faixa. Minha intuição nunca falha! Este talvez foi o disco que mais escutei na vida, ou ao menos está no top-5. Vale lembrar que eram outros tempos: não havia internet. Não havia MTV por aqui. A rádio 96 FM ainda tocava boas músicas, mas já começava a dar sinais de que não daria mais para se basear em sua programação. Poucas lojas de CDs, e com acervos limitadíssimos. Ou seja: eu, como sócio do Musiclub era, provavelmente o mais bem-informado sobre o mundo musical do meu círculo de conhecidos.
Engraçado como a idade influencia diretamente com o estilo de música que se ouve. Na época, minhas preferidas eram as músicas mais animadas, como Message in a Bottle,De do do do, De da da da, enquanto Russians era a que eu menos ouvia. Hoje eu curto mais as lentas e sutis, como Fields of Gold, When We Dance, e até mesmo Russians. Quando ouvi o CD pela primeira vez, percebi que já tinha ouvido algumas músicas antes, e a que me chamou logo a atenção foi Englishman in New York, uma letra bem interessante sobre o choque cultural a que são submetidos os formais britânicos na descontraída metrópole americana.
Ainda tenho o CD, e muito bem conservado. Há alguns dias, copiei todas as faixas para o iPod, mais algumas que haviam em outra coletânea, que sempre trocava com um amigo, por alguns dias: Wrapped Around Your Finger, So Lonely, Don't Stand So Close To Me' 96, Invisible Sun e Spirits in the Material World. foi uma viagem à minha adolescência. Incrível como haviam detalhes que eu não percebia, e que são tão bonitos. Claro que eu também não tinha um fone de ouvido como o do iPod... O fato é que o power trio Sting, Andy Summers e Stewart Coperland eram (e são) brilhantes. São músicos de altíssimo nível. Uma grande influência jazzística numa banda crua, dos tempos do punk rock, onde excesso de sofisticação era demonizado.
Nas músicas do Police, percebo como o Coperland é um grande baterista. Ele consegue tirar dos cymbals um som extremamente rico, e simples. Hoje consigo ouvir o disco inteiro só prestando atenção ao conjunto cymbal-aro da caixa-bumbo. O Summers faz uma negação total aos tempos do rock pesado do Zeppelin e Purple, deixando muitas vezes a guitarra baixa, bem ao fundo, discreta. Sempre seca e falando, mas não na cara do ouvinte, como bem faziam todas as bandas dos anos 60-70. Realmente eram outros tempos. Já tinha enchido o saco ouvir tantos solos parecidos, impregnados de egos inflados (não que isto não existisse mais, óbvio). Sting é um músico completo: toca vários intrumentos diferentes, e sempre foi um grande compositor. Me admira também como sua voz não perdeu qualidade com o tempo.
Eu ouvia esse disco todos os dias, juntamente com uma coletânea do Men At Work, que falarei depois. Tinha poucos discos, duas ou três gavetas de fitas e só. A maioria dos colegas se contentava com o que estava na moda, então não havia diálogo. Me trancava no quarto e escutava, escutava, escutava. Fui caminhando para o que sou hoje, musicalmente. Ouvia muito Dire Straits também, e achava incrível que o Sting tenha se juntado ao Knopfler em Money For Nothing. Só não havia o Youtube pra me deleitar com vídeos de shows com os dois juntos. Hoje seria um sonho inimaginável ter acesso tão fácil a tanto material bom.
Numa pesquisa rápida, descobri que existem várias edições desta coletânea, e a que eu tenho é a segunda, de 1998:
- PolyGram International (1998)
- "Message in a Bottle" - 4:49
- "Can't Stand Losing You" - 2:58
- "Englishman in New York" - 4:25
- "Every Breath You Take" - 4:13
- "Seven Days" - 4:39
- "Walking on the Moon" - 4:59
- "Fields of Gold" - 3:40
- "Fragile" - 3:54
- "Every Little Thing She Does Is Magic" - 4:20
- "De Do Do Do, De Da Da Da" - 4:09
- "If You Love Somebody Set Them Free" - 4:14
- "Let Your Soul Be Your Pilot" - 4:29
- "Russians" - 3:57
- "If I Ever Lose My Faith in You" - 4:29
- "When We Dance" - 4:17
- "Don't Stand So Close to Me" - 4:03
- "Roxanne" - 3:12
- "Roxanne '97" (Puff Daddy Remix) - 4:33
Engraçado que a faixa 18 foi um dos poucos raps internacionais que já escutei. Até hoje não sei se gosto ou não dessa versão. Rap é sempre difícil de engolir pra mim, exceto pelo CD Quebra-Cabeça, do Gabriel, O Pensador, que também fez minha cabeça e ganhará um post no futuro.
Uma curiosidade é que, nessa época, eu já escrevia algumas letras, e tinha grande facilidade para fazer versões em português de músicas gringas. Fiz, então, uma versão para Every Little Thing She Does is Magic e uma extensão para a versão em português de Fragile, Frágil. O incrível é que até hoje acho boas as minhas versões. Quem sabe um dia não as trago à tona?
I. Malforea
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