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» » » » Um blues para os reclamões – Reflexões de um One Man Band


É inevitável, não há como conter essa grande massa de reclamões que se queixam o tempo todo, que alegam ser menos privilegiados do que àqueles que demonstram contentamento com suas carreiras. Os desbravadores, gente que abre caminhos para que a arte aconteça, que vive batalhando para que a cena da região sobreviva em meio aos infortúnios constantes de quem vive em nosso país, quase sempre são demonizados pelos reclamões.
“Aquilo que não causa minha morte, torna-me mais forte”. (Friedrich Wilhelm Nietzsche)

Esta citação resume bem a visão de Nietzsche sobre o sofrimento. Mas, não basta sofrer, pois, se assim fosse, todos seríamos felizes; todos passam por dificuldades na vida e nem por isso são felizes, ou deixam de passar por grandes dificuldades. A questão é como encaramos o sofrimento, as dificuldades, os fracassos.

Para definir metaforicamente sua visão, Nietzsche diz que devemos nos espelhar nos jardineiros. Um jardineiro depara-se com plantas cujas raízes são horríveis, monstruosas, mas o resultado que se obtém delas é sublime! Não há uma bela flor que não tenha uma raiz horrorosa. E é assim que devemos nos comportar, transformando a dor e o sofrimento (a raiz horrorosa), em algo belo (a flor), e proveitoso para nossas vidas.

Meu começo não foi fácil como a maioria dos meus colegas:


– Estava entrando num terreno que até então era praticamente desconhecido.

– Minha influência no meio era praticamente zero por não fazer parte de nenhuma panelinha.

– A maioria das pessoas me conhecia apenas como professor de música.

– E um dos maiores agravantes, todos sabiam que eu era cristão, e isso me fazia ser visto como um alienado.

Provavelmente você deve ter se ofendido caso seja adepto ou simpatizante do cristianismo e por isso explicarei melhor. Creio que devido a grande eminencia do politicamente correto, esse tipo de comportamento deve ter mudado ou pelo menos fez de quem pensasse assim, gente mais comedidas em suas opiniões. Mas essa era a realidade que eu vivia naquela época, naquele lugar, com aquele grupo de pessoas. Gente que acendia incenso achando que iria salvar o mundo e por isso, gente que acreditava que os cristãos eram pessoas inferiores intelectualmente, “gente que acredita em inferno”. Vai ver, eles temiam que no meio de um show eu iria sair gritando no palco Jesus salva, Jesus salva, como se um médico evangélico ao suturar, escrevesse um versículo da bíblia com o intuito de pregar religião àquela pessoa. Bobagem, a grande verdade é que seria menos um parceiro de pó, de fumo, um careta na área.

Sem mais delongas, eu tinha muito contra mim e mesmo com todas as opiniões contrárias eu não deixei de continuar lutando.

Agora, não pense que o fato de eu continuar lutando fez com que eu me enquadrasse dentro de certos ambientes, eu continuei vivendo um deserto por muitos anos e isso foi frustrante em muitos momentos.

Mas a paciência foi imprescindível nessa época, foi ela que fez com que novas oportunidades surgissem, novas gerações de proprietários de estabelecimentos foram dando as caras e aos poucos as coisas foram melhorando.

Então, finalmente eu consegui perceber que eu era alguém naquele lugar, as pessoas curtiam as minhas músicas, iam nos meus shows e uma somatória de pontos positivos fizeram com que eu passasse a ter o apoio inclusive dos meios de comunicação da região. Essa foi uma época que muita gente me ajudou e sou imensamente grato a todo apoio recebido.

Mas como ninguém é perfeito, logo depois de viver uma boa temporada, comecei a ouvir aquelas fofoquinhas do tipo:
– Fulano ouviu de ciclano, que ouviu de beltrano, que não sabe de quem ouviu, que você anda monopolizando as coisas por aqui,– Você é mau, te falta bondade na alma.– Quando tu não era ninguém a gente quem te ajudou (Quem me ajudou foram outras galeras, a nova geração que citei anteriormente).


Enfim, observem como os reclamões se comportam? Sempre menosprezando as conquistas dos outros?

Anos depois eu enchi o saco de tudo aquilo e me mudei para o Rio com o meu projeto One Man Band Blues que foi muito bem recebido por aqui. Mas infelizmente, vi que a realidade dos reclamões está por toda parte, na verdade eles existem em todos os âmbitos, pois reclamar é uma característica de nós humanos.

Como disse anteriormente, já identifiquei alguns reclamões por aqui também. Mas eu bem sei o que é ser um desbravador pois sendo um musico solo, com banda, One Man Band Blues, no rock ou no blues, eu sei muito bem o que eles sentem.

Se eu fosse compor um blues para os reclamões, a máxima poética dessa canção seria:

Os reclamões querem de mão beijada o que os desbravadores conquistaram debaixo de muito custo.

“Todo reclamão sempre pede choramingando,
O fruto de um guerreiro que o conquistou suando.”


Sei que não rimou tanto assim, mas é uma grande verdade. Todo desbravador sempre terá minha consideração, pode ter certeza.

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Ari Frello é guitarrista, violonista, gaitista, cantor, compositor, produtor musical e professor de música. Está na estrada desde 2008 e se tornou conhecido por seu trabalho como "One Man Band". Já lançou três álbuns autorais e já trabalha no próximo. Siga-o no Spotify, YouTube, Instagram, Twitter e Facebook.

Fonte: Ari Frello One Man Band



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Publicado por BLUEZinada!

BLUEZinada! é uma zine produzida pela Distintivo Blue e distribuída gratuitamente, desde 2011. Saiba mais sobre a banda:

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