A Distintivo Blue, banda de Vitória da Conquista-BA, acaba de lançar seu quinto disco, Todos os Dias, Vol. 1, e eu já estava na jornada de textos, releases, entrevistas em rádios e posts sobre ele. A ideia do "faixa a faixa" até estava na fila, mas não entre as primeiras opções. Foi quando o Filipi Junio me lançou a proposta de fazê-lo para o Southern Rock Brasil. Pois bem, nada melhor que o próprio produtor, vocalista e compositor da maioria das faixas do disco contar um pouco sobre sua história.
A DB está em seu sexto ano de estrada, e não foi fácil chegar até aqui: tivemos mais de vinte formações diferentes e nossa própria visão da banda enquanto profissão mudou bastante desde o primeiro EP, lançado em 2011. Aqui podemos dizer que encontramos nosso caminho, e nossa identidade já se mostra mais clara, menos "Frankenstein" que nos discos anteriores. Este primeiro volume trata basicamente de dilemas sentimentais, o que é um grande clichê no blues, e detestamos cair neles, mas são sinceros e espontâneos. Para o volume 2 guardamos as letras mais ácidas.
1 - Meio Dia (Prelúdio)
A primeira faixa serve para situar o ouvinte tanto em nosso habitat natural (a nossa cidade) quanto no que escutará a partir dali: Temos o relógio da igreja-matriz, hoje não tão notado quanto em minha infância, tocando ao meio dia (alusão à faixa seguinte) e vários sons do próprio centro da cidade, gravados em duas sessões. Ao fundo, em primeira mão, um tema em violão que encontraremos no volume 2 numa guitarra, chamado Ishtar, um instrumental que há muitos anos está engavetado. Os mais atentos perceberão que a última faixa do disco também está enxertada e o disco acaba começando exatamente do jeito que termina. Ok, vários spoilers...
2 - Doze Horas
Ela surgiu de forma orgânica (aliás, o título do disco anterior), num ensaio. Entre uma música e outra, sempre alguém puxa algum tema, geralmente na guitarra e os outros correm atrás. Foi o que aconteceu. Quando ouvi aquilo, me restou solfejar alguma coisa e, como sempre gravo os ensaios com o tablet, para o caso de algo desse tipo acontecer, levei para casa decidido a transformar numa música. Na época eu tinha conhecido uma garota, que hoje é minha namorada, e ficamos 12 horas a fio conversando pelo chat do Facebook, enquanto eu ouvia a gravação em looping, tentando criar uma letra. Deu certo. O dia já estava claro quando terminei. Como eu ainda não trabalhava só com música, fui para o trampo mais morto que vivo, mas a sensação de compor uma nova música não tem preço: Um dia lançaremos um disco só com raridades e com certeza essa gravação estará nele. É, no mínimo, interessante de se ouvir.
3 - Todos os Dias
A faixa-título do disco, foi composta por nosso guitarrista, Rômulo Fonseca, e deveria ter sido lançada no segundo EP da banda, "Riffs, Shuffles, Rock N' Roll" (2012), mas a banda ainda era muito instável e tínhamos um péssimo e preguiçoso baterista, que não deu conta do recado: o bluesinho lento e reto na verdade é uma grande estrada escorregadia, principalmente para os bateristas. Foi composta em 2009, após uma desilusão amorosa do nosso barbudo amigo, que saiu do grupo nessa época e voltou um ano depois. Ficou no repertório desde então: os fãs que já nos viram ao vivo já a conheciam.
4 - Charity and Mercy
Charity and Mercy foi composta por Camilo Oliveira, guitarrista, que também saiu da banda e voltou, mas saiu novamente, para se dedicar à carreira acadêmica. Foi lançada no disco anterior, "Orgânico "(2014), numa versão voz e violão. Ficamos com esta e mais duas faixas de sua autoria, que estarão no volume 2, todas em inglês. Como estamos numa fase bem country, ouvindo muito Railbenders, Johnny Cash, Willie Nelson e uma infinidade de nomes, acabamos criando esta versão cheia de violões e se aproximando mais do bluegrass. A letra basicamente faz trocadilhos com várias canções da banda, usando algumas piadas internas e citando, inclusive, algumas que ainda não foram lançadas.
5 - Diglett Blue
Diglett Blue tem esse nome por causa de uma das subdivisões da banda, chamada Diglett Joes, um power duo formado por mim (voz, cajón, gaita, violão e o que mais aparecer) e Lavus Bittencourt (violão, voz, gaita, guitarra...). Foi uma das soluções que encontramos para se apresentar em lugares menores e não ter de dividir um cachê já pequeno com uma multidão, possibilitando que paguemos nossas contas em dia. Sempre fazemos este instrumental para chamar a atenção do público quando está um tanto apático e descobrimos que ela não saía mais como improviso: as frases são sempre exatamente como na gravação. Virou uma composição nossa e não poderia ficar de fora. Gravamos em casa mesmo, após um show de 3 horas. Sua versão original era com a gaita em D, mas desafinou, estou sem grana e só usei uma em C mesmo, nela e em Charity.
6 - Blues a Rosa
Se Doze Horas mostrava o início de um relacionamento, Blues a Rosa vai mais adiante e o mostra após um desentendimento. Um legítimo blues de lamento escrito no calor do momento, naquela hora em que a solidão bate, junto com o arrependimento (quem nunca?). O título veio por causa de uma blusa rosa que ela sempre usa. E não, seu nome não é Rosa. Aqui tivemos a participação de Diro Oliveira, da banda Café com Blues, na gaita.
7 - Meu Amigo Blues
Meu Amigo Blues retrata outro desses momentos ruins, que são tão bons para o compositor. Mostra uma pessoa que falou mais coisas do que deveria e se arrependeu. Aproveitei para falar sobre pessoas que também fazem coisas que se arrependem, sobrando apenas o blues como "amigo" e companheiro. A flecha lançada, a palavra dita citam o velho provérbio chinês, tão usado em nosso dia-a-dia e se juntam à pedra jogada no telhado para ilustrar que nossas ações podem não ter volta e que devemos sempre pensar antes de agir, pois a responsabilidade sempre cairá sobre nossos ombros. Um minuto pode por uma história inteira a perder.
8 - Ame a Solidão
Ame a Solidão foi composta na mesma semana. Não lembro qual veio primeiro, mas é basicamente mais deprê blueseira, desta vez com a melancolia country. Fazemos aqui uma reflexão mais profunda sobre a solidão, onde há aquela sensação de "o que não tem remédio, remediado está". Se fez besteira e não tem mais jeito, aprenda com seu erro, levante a cabeça e, ao menos, trate de não repeti-lo. Na pior das hipóteses tem-se a solidão como companheira... O blues, como já foi dito na canção anterior, e a solidão, sempre estarão lá quando for preciso. Este é o verdadeiro espírito. Não é preciso nascer negro no Mississippi do século XVIII para senti-lo: no fim das contas somos todos humanos, fracos e frágeis humanos.
9 - Walking Blues
Walking Blues, o único cover do disco, é, na verdade, uma faixa bônus. Aqui temos apenas Rômulo Fonseca interpretando Son House, na versão do Clapton. Foi gravada no mesmo dia em que Diglett Blue, usando um gravador H4n, um SM 58 e um Beta 58a, em casa mesmo. Temos vários takes alternativos e versões vintage (estilo anos 20) que lançaremos no futuro, de ambas.
Este, então, é nosso mais recente trabalho. Esperamos que curtam e compartilhem por aí. Está disponível no Spotify, Apple Music, Deezer, Rdio, além de várias lojas virtuais internet afora. Viabilizaremos o segundo através de crowdfunding e contaremos com vocês em breve. Um grande abraço!
I. Malforea
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