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» » » » » Desculpe o transtorno, precisamos falar da "cena" Country no Brasil



Existe uma "cena" Country no Brasil? Essa é uma pergunta que vem me incomodando faz tempo. Em uma das minhas conversas com a Jéssica Capelini, dona do canal De Fone de Ouvido, essa pergunta surgiu e foi motivo de uma longa e saudável discussão. Fiquei curioso pra saber a opinião dos músicos que trabalham com esse estilo musical e aproveitei o momento para fazer a seguinte pergunta: "Você acha que existe uma 'cena' Country no Brasil ou ela ainda está em construção?"

Antes de analisar as respostas e chegar a uma conclusão se existe ou não uma cena Country no Brasil, tenho que responder uma outra questão que surgiu ao longo das minhas conversas com a Jéssica e com os músicos: Mas afinal, o que é uma "cena musical"?


O CONCEITO DE CENA MUSICAL


Segundo Victor Vasconcellos [1], "desde a década de 1940 o termo 'cena' vem sendo utilizado para se referir a grupos urbanos que compartilham interesses por um determinado estilo musical." Dificilmente as pessoas irão definir "cena" de uma forma diferente, o conceito citado faz parte do senso comum, mas uma rápida pesquisa na literatura do assunto mostra que uma "cena" não é formada somente por indivíduos com interesses em comum.

Will Straw foi um dos primeiros acadêmicos a conceituar o termo. Para ele é fundamental a "interconectividade entre os atores sociais e os espaços culturais da cidade" [2]. É impossível "falar de uma cena sem levar em conta os lugares de encontro de seus membros, os locais onde os músicos se apresentam e os espaços de comunicação, reprodução e contestação de suas ideias e práticas particulares." [3]

O Victor Vasconcellos sintetizou bem o conceito elaborado inicialmente pelo Straw, por isso será o adotado aqui:

[...] acreditamos que uma cena musical é composta a partir dessa relação que se opera entre grupos – que compartilham gosto musical, práticas sociais e valores – e espaços físicos que são apropriados e ressignificados pelo grupo para realizar suas ações. Alguns desses espaços são mais fortemente investidos de significados e passam a representar o grupo e a concentrar grande parte dos fluxos relacionados àquela coletividade em uma dada escala (cidade, região metropolitana, estado, etc.).[3]

O artigo do Victor Vasconcellos é de 2011 e ele não analisou a influência da internet na construção de uma cena. Os grupos de Facebook e Whatsapp, sites especializados, as páginas de sites e bandas no Facebook e Twitter e demais ferramentas, são os novos espaços de desenvolvimento de uma cena. Nesse mundo digital em que vivemos, esses novos espaços não podem ser deixados de lado.


O QUE OS MÚSICOS PENSAM SOBRE A CENA NO BRASIL?


Ao longo dos anos colecionei muitos contatos de músicos brasileiros e passei um fim de semana inteiro conversando com alguns dos principais nomes do Country nacional. Confiram as respostas:

Rodrigo Haddad

Não é nada fácil sobreviver nesse meio com um chapéu na cabeça. A Country Music no Brasil convive com alguns gêneros musicais que se aproveitam e flertam no estilo americano para sofisticarem e trazerem algo bacana para seu publico, porém isso vem causando à tempos uma certa confusão no publico brasileiro tornando a vida de nós, artistas de verdade do segmento, um pouco mais árdua.
Vejam que os maiores canais de consumo de música atualmente no mundo são as plataformas de streaming e no Brasil o próprio iTunes, assim como o Spotify, colocam embaixo do mesmo guarda chuva a Country music e o sertanejo.
Por um outro lado, navegando pelas redes sociais, existem muitas pessoas, alias milhares, que curtem a Country Music no país, principalmente da região Sudeste e Sul do Brasil. Várias bandas e artistas de qualidade vem surgindo e todos a procura de espaço para se apresentarem. Hoje por aqui você consegue encontrar todas as vertentes da Country Music desde o tradicional, Outlaw, Bluegrass, Pop country e por ai vai.
Cabe a todos nós que estamos nesse segmento fazer com que cada região crie uma efervescência necessária para termos uma cena forte no futuro. Uma comunidade "real" com muita criação artística, uma grande difusão que irá gerar um verdadeiro consumo desse gênero musical. Nesse mais de vinte anos de estrada falo por experiência própria, pra quem ama a Country Music ela não é apenas um gênero musical e sim um estilo de vida.


Falando de Country Music, especialmente de Country Underground, sem dúvida que existe uma cena brasileira, se você considerar as bandas do estilo que estão em atividade já algum tempo, o impacto que elas já geraram e a quantidade de bandas que estão surgindo a cada dia.
Mas ainda é uma cena em construção, considerando que as bandas mais antigas são poucas, que as bandas novas, são realmente muito novas e o público conhecedor do estilo ainda é bem reduzido. Todas essas bandas já abriram muitos espaços, mas não necessariamente esses espaços estão conectados, formando um circuito de bares e festivais que conhecem e trabalham com a música Country.
Se compararmos com a Europa, existe uma cena antiga do Country tradicional em vários países, com um circuito grande de festivais e bares dedicados exclusivamente ao estilo e a maioria das pessoas (organizadores, músicos e público) estão envolvidas nesse cenário a pelo menos 20 anos.
No nosso caso, o cenário também é animador, já temos alguns espaços e eventos abertamente apoiadores e promovedores do estilo e também é possível perceber mais a presença do Country em festivais independentes, bares e casas de shows que até então não estavam acostumados a trabalhar com o estilo.


Há espaço para o Country. Há uma carência do estilo, posso dizer isso baseado pelo que ouço do público em meus shows. Isso em nível nacional. Desde o interiorzinho de São Paulo e Minas Gerais, até Goiás e Brasília. A cena Country existe sim, espalhada, tem uma galera de São Paulo trabalhando nisso, uma galera aqui do interior trabalhando nisso. Creio que em algum tempo, haverá a aproximação e junção dos movimentos isolados e o Country estará em evidência novamente.

Cesar Benzoni (Yodel Studio/Raccoonies)

Acho que ja existiu e está tentando se reconstruir. "Então, posso falar mais por São Paulo. Acho que houve uma cena Country forte no final dos anos 1990 e 2000, mas que muito se confundiu com a cena sertaneja. Quando eu tocava na banda BlackSmith, tocávamos em muitos lugares diferentes que pertenciam a esse "circuito Country", mas que nunca foi só Country e sim "Country/sertanejo". Depois com o boom do sertanejo universitário, esse Country perdeu muito espaço e essa cena praticamente acabou.
Ainda tem muitas bandas tentando sobreviver deste circuito, mas vejo como uma luta que não vale muito a pena. Por outro lado, o meio de música indie e alternativa começou a se interessar mais pela música Country através de influencias do Folk e acho que é justamente esse cenário que vale a pena. Acho que vale cativar esses novos fãs de música Country e estabelecer uma nova cena que corra com total independência do sertanejo.
Vejo que em outros estados, existem apaixonados por Country, mas que já da essência se interessaram pelo Country mais antigo, ou seja, não foram influenciados por esse "Country/sertanejo". Acho que tudo pode ter seu espaço, se bem feito. O grande segredo para o Country ser valorizado, é que ele seja bem feito, saca? Bem escrito, bem executado pelos músicos, bem gravado, bem produzido. Algo que possa ficar minimamente competitivo com os sons que escutamos de fora. Se não vamos ficar sempre no quase.

Wagner Creoruska (O Bardo e O Banjo e Redneck Murder)

Eu acho que existe uma cena Country sim, porém com públicos diferentes. Têm a galera que curte o Country, e a galera que chega no Country por bandas que seguem estilos ligados (como o Bluegrass, o Southern Rock, o Folk). Digo isso pelo que eu vejo nos shows, mas no geral é uma cena em construção, onde esses públicos diferentes muitas vezes acabam não se falando."
Nós do Bardo e o Banjo tivemos o privilégio muito grande de poder dividir o palco tanto com as bandas de Country, em eventos só de Country, como com as bandas de Folk, Rock, Blues e vertentes, além de outros estilos, e assim: acho que as bandas só não se falam por falta de oportunidade. Acho que uma parcela da culpa disso seria dos contratantes, por acharem que os públicos não se dariam bem, enfim, daí eu já é especulação demais, rs. Mas a real é que esse público, mesmo vindo de vertentes tão diferentes podem se dar bem, e o grande exemplo disso acontece nos shows do Bardo e o Banjo, vemos crianças, metaleiros, a galera do Country, do Blues, a galera de moto clube, e todo mundo se dá super bem, é um clima muito divertido.

Bufunfa Nikolaiko (Them Old Crap)

Eu acho que está crescendo sim. Em todas as suas vertentes, por assim dizer. E tem também as misturas que algumas bandas novas estão fazendo com a moda de viola e sertanejo de raiz. Só que as vezes tem que "educar" um certo o povo que acha que Country/Sertanejo universitário é a mesma coisa. E não é! Sobre isso eu digo por conhecimento: nossos shows são muito mais legais no meio da galera do Rock; quando é para o povo "Country" (sertanejo) dá até tristeza.


O grande problema é que o pessoal não sabe ainda o que é Country. Existe uma grande dúvida entre o que é e o que não é Country Music. A gente vê um monte de músicos tocando sertanejo falando que faz Country e um monte de gente que está fazendo Country, mas não acha que é Country, acha que é Pop. Então acho que a grande questão é definir o que é Country, para depois poder definir o que é uma cena Country.

Dieter Baumgartner (Bastardos Country Rock)

Eu acho que existe uma cena Country, não muito grande, em São Paulo, principalmente com o Rodrigo Haddad. No resto do país vejo que ainda há um certo preconceito, principalmente pela confusão que fazem com o sertanejo. Em resumo, não é uma música que "vende" muito no Brasil. Infelizmente.
Aqui no Sul dá para contar nos dedos o número de bandas Country, talvez nem encha uma mão. Agente está tocando bastante, sempre que o pessoal vê eles gostam porque é diferente. Nunca ouviram falar em Waylon Jennings, mais quando escutam gostam. Acho que não vai mudar muito, a não ser que venha um filme, alguma coisa muito popular falando de Country Music, se não continua como esta.


Eu acho que apesar de pequena já existe. Todo tipo de música que fuja do pop é inviável economicamente no Brasil. Só se faz por amor. Mas pessoalmente, acho que compensa. É satisfatório.

Beto Garja (RedFox)

Já existiu. Não sei se com o que restou podemos dizer que é uma cena. Eu gostaria, claro. Mas não imagino acontecendo.


Não existe. Ela sempre tenta surgir, mas o público Country mata o Country. Os frequentadores mais antigos não dão espaço para os mais jovens ou para os que pretendem iniciar no segmento. Praticamente acham que eles são donos do "movimento" no Brasil e que ninguém mais pode fazer parte. Isso falando do circuito paulistano e região. Além da disputa interna para ver quem é o mais entendido do assunto. Resumindo, o Country por aqui é baseado em egos, são incapazes de dividir e se ajudar.

Fábio Skynyrd (The Hicks)

Eu vejo e vivo essa cena, ela existe, porém misturada a cultura Rockabilly, então se confunde um pouco sobre o tamanho do público. Mas vejo que tem muitas bandas e artistas surgindo ou retornando e fortalecendo a cena Country, trazendo novas influências ao gênero. Pra mim, é uma cena existente em constante crescimento.
Existe os mais velhos que não aceitam com facilidade os novatos ou quem traga novidades ao gênero. Mas é uma minoria. Geralmente é uma cena onde as bandas tocam sempre nos mesmos eventos e casas, existe sim uma troca de contatos e conhecimentos, a The Hicks por exemplo está longe da cena por estamos em Poços de Caldas, mas mesmo assim já trabalhamos juntos e somos muito amigos de diversas bandas da cena.
Então como eu disse, eu percebo uma cena de uma "tribo" e não especificamente sobre o gênero Country. E sim de gente que também gosta de Country, principalmente quando se fala em público, que afinal é o mais importante.

Marcelo Rafael (músico, fotógrafo e ator)

Acredito que desde os anos 90 não se via o estilo Country ou se ouvia tanto Country Music como hoje e essa cena cresce a cada dia com um grande diferencial ao meu ver em relação aos anos 90: temos muitas bandas e cantores fazendo Country Music com qualidade, temos a BCMA, a Associação Line Dance Country Brasil, acredito sim que estamos num caminho crescente, principalmente com relação ao Country Rock nacional, seja cantado em inglês ou português mesmo.
O que está ajudando a engrossar e fortalecer a cena sem dúvida são as redes sociais, que estamos sabendo usar como nunca, para divulgação de shows, encontros de Line Dance e até eventos maiores como o que teremos em Campinas, o Festival Line Dance Country Brasil 2016 onde grandes nomes do Country nacional se apresentarão.
Acredito que a cena está aí, já pronta, apenas temos que expandir, e o x da questão é exatamente isso, como fazer isso? Na minha humilde opinião somente com a união de todos, aqueles que estão se unindo estão se sobressaindo, essa é a toada, esse é o caminho.

A MINHA OPINIÃO:


1. ESPAÇOS E EVENTOS

Moro em uma cidade, Belo Horizonte, onde não existe uma cena Country, existem bandas, mas não temos locais dedicados ao estilo e, no geral, as bandas não se comunicam muito bem, existe o tal do ego que gera um grande ruído na comunicação entre elas. Esses não são problemas exclusivos de BH, é possível encontrar tudo isso em São Paulo, o grande centro cultural do país e cidade que concentra o maior número de fãs da Country Music (12% dos meus leitores são de Sampa, segundo o Google Analytics). Acontecem muitos shows em Sampa, mas nunca em "espaços físicos que são apropriados e ressignificados pelo grupo para realizar suas ações."

Em Belo Horizonte, o Heavy Metal tem o Stonehenge Rock Bar e, antigamente, o Matriz como pontos de encontro; no Rio de Janeiro, o público Rock em geral tem o Circo Voador; em São Paulo, a cultura Rockabilly encontrou no Rockerama um espaço para se expressar; na mesma cidade, o Bourbon Street Music Club é o ponto de encontro dos fãs de Jazz; os moto clubes pelo país são um ponto de encontro de roqueiros e headbangers. Mas e o Country? Ainda não encontrei nada do tipo.

O Country não é independente no Brasil: está sempre ligado a outro estilo. As bandas tocam com artistas do Rock, Blues, Rockabilly, Heavy Metal e Sertanejo. Raros são os eventos destinados exclusivamente ao Country. Como disse o César Benzoni, isso não é ruim para o Country, essa "união" pode ser benéfica, pode ajudar a atrair novos fãs.

Mas existe alguém tentando criar algo que priorize o Country? Tem, mas são poucos. Sem pesquisar muito, posso citar o Rodrigo Haddad e suas tradicionais Nashville Nights; temos a Associação Line Dance Country Brasil; e o Muddy Roots Brasil, talvez o maior festival Country já realizado no país. Essas são iniciativas que podem gerar bons frutos no futuro, mas ainda são poucas e geram pouco impacto nos fãs, que muitas vezes nem sabem da realização desses eventos, muito mais por culpa dos promotores/bandas do que por falta de interesse dos fãs. Eis o gancho para a minha próxima crítica.


2. MARKETING

As bandas devem melhorar a forma como alcançam seus atuais e futuros ouvintes. Não temos mais tempo para ir a uma loja de CDs e pesquisar bandas novas, não perdemos o nosso tempo indo a shows de bandas que nunca ouvimos falar e nem o "boca-a-boca" é mais o mesmo. Se você quer ter fãs, terá que chegar até eles.

Quase todas as bandas que divulgo no site, conheço após muitas pesquisas em plataformas de streaming, blogs especializados e sites de download irregular (o melhor lugar para se encontrar bandas/artistas que não sabem se promover), raramente elas chegam até mim. Você realmente acha que todas as pessoas irão buscar sua música dessa forma?

Vocês não têm noção de como é complicado conseguir informações de uma banda Country nesse país. Poucas bandas tem sites, raríssimas disponibilizam informações em suas páginas no Facebook, algumas nunca respondem suas mensagens no Facebook, uma minoria informa um e-mail de contato e quase nenhuma tem uma assessoria que faça tudo isso. Mas essa não é a pior parte.


Muitas bandas chegam a mim sem ter uma faixa disponível para audição, e quando enviam, está no YouTube, que não é a melhor plataforma para esse tipo de divulgação. Eu tenho um texto padrão onde falo da importância de, no mínimo, disponibilizar as faixas no Soundcloud, ReverbNation e outras plataformas de streaming em que o músico insere a canção e tem controle total do que é publicado. Quando falo de Spotify, Deezer e Apple Music, a coisa fica feia. A maioria das pessoas conhecem os serviços, mas nunca tiveram a curiosidade de saber como eles funcionam, acham que é um bicho de sete cabeças. Poucos sabem que é ISRC e quase ninguém conhece os serviços prestados por empresas de distribuição digital (alguns até são gratuitos!).

Como as bandas querem ser reconhecidas se a música delas é inacessível? Alguns músicos não perceberam que o mundo analógico está quase morto, que a nossa vida é digital. A internet é cheia de tutoriais sobre como utilizar esses serviços, uma hora do seu dia é o suficiente para aprender a lidar com essas novas formas de divulgação.

Qualquer artista Folk pode ser um bom exemplo. Eles são os mais organizados, vivem me mandando releases de shows, clipes e até sobre o espirro que um dos músicos deu no dia anterior. A cena Folk está crescendo não só pela qualidade musical, mas pela capacidade que os músicos têm em engajar seus fãs, algo raro no Country em terras tupiniquins.


Entre as bandas Country que divulgo, posso citar como bons exemplos a O Bardo e O Banjo, o Rodrigo Haddad e a Tiregrito, eu não procuro nada sobre elas, todas as informações que preciso chegam a mim via email ou pelas redes sociais, ambos sabem engajar seus seguidores nas redes sociais e fora delas, não é atoa que figuram no grupo de bandas mais populares do país.

Vamos a um exemplo. Ano passado a Tiregrito deu uma aula de engajamento, saiu do completo anonimato para se tornar uma das bandas mais populares do país. Esse engajamento aconteceu durante o concurso que ia escolher uma banda para tocar no Rock in Rio em 2015. A banda não ganhou, mas deu uma aula de como engajar seus fãs mais fiéis e os mais novos. O TMDQA publicou uma matéria que explica melhor esse case: "Tiregrito e o verdadeiro engajamento na era das redes sociais"

Hoje em dia não basta tocar ou cantar bem, não basta investir muito dinheiro na gravação das músicas, nada disso importa se você não souber divulgar o que faz. Essa não é uma crítica só para os músicos Country, é para todos aqueles que ainda pensam que basta ter talento e boas composições que tudo dará certo. 


3. A CENA NÃO EXISTE, MAS PODE EXISTIR NO FUTURO

Não existe uma cena musical Country no Brasil, os fãs existem, temos ótimas bandas e pessoas interessadas em levar o estilo para um outro patamar, só precisamos colocar as ideias em prática. Precisamos criar nossos espaços, os locais em que os fãs saem de casa para bater um papo e escutar boa música ao vivo.

Você provavelmente está pensando, "mas os donos das casas de shows não se interessam por Country, isso não dá dinheiro pra eles". você está certo, por isso que temos que construir nosso espaço sem a ajuda deles. Parece utopia, mas tem uma galera aqui em BH que está tentando.

Meses atrás fui no primeiro Blues no Morro e conversei sobre esse assunto com o Eduardo Sanna, dono da produtora Vitrola Viva e músico de umas cem bandas aqui em BH. Junto com músicos de outras bandas, ele idealizou e colocou em prática três festivais: o Blues no Morro, o Sumidouro em Cena e o Chapadas Folk 'n' Blues, eventos sem grandes patrocínios, mas extremamente bem organizados, cheios de boa vontade, amor pela música e em prol do sonho de um dia criar uma cena musical sustentável.

Algo está surgindo em BH, ainda é cedo para falar em resultados, talvez nem dê certo, mas eles estão se arriscando, saíram do campo das ideias e estão tentando criar uma cena, que não é só Country. Esse grupo tem um diferencial, além de serem bons músicos, sabem a importância que a internet tem na construção de uma cena, eles não se encaixam nas críticas que fiz no tópico anterior.

Eles sabem que engajamento nas redes sociais gera mais pessoas nos shows, que shows com um bom público geram demanda por mais shows, criando, dessa forma, um ambiente propicio para a ocupação de espaços por pessoas que compartilham interesses por um determinado estilo musical. 

Muddy Roots Brasil é a minha grande esperança para mudar o cenário Country no país, não me lembro de nada desse porte. O festival vai reunir mais de vinte bandas do Brasil, EUA e Polônia em dois dias, sem dúvidas será um marco na história do estilo do país e estarei lá para presenciar isso. Espero que os músicos voltem para suas cidades repletos de inspiração e ânimo para tentar fazer algo diferente, temos que agir e parar de reclamar.

Resumindo, precisamos de boas bandas, boas ideias, atitude e engajamento nas redes sociais, esse é o caminho para tirar o "em construção" da cena Country nacional.

REFERÊNCIAS:

[1] VASCONCELLOS, Victor Maurício Barbosa de. A Cena da Rua, a Cena na Rua: um Debate sobre o Conceito de Cena Musical a Partir do Heavy Metal no Rio de Janeiro. Espaço Aberto, [S.l.], v. 1, n. 2, p. 129-142, Dez. 2011. ISSN 2237-3071. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/EspacoAberto/article/view/2062>. Acesso em: 20 Out. 2016. 
[2] Idem [1].
[3] Idem [1].



Filipi Junio nasceu em Paraty e mora em Belo Horizonte desde 2007, onde se graduou em Biblioteconomia em 2012. Apaixonado por Southern Rock, Blues e Country, criou o Southern Rock Brasil em 2010 para falar um pouco sobre o que gosta e encontrar pessoas com os mesmos gostos. Fã de tudo do Tolkien, Cornwell, Martin, Star Wars e viciado em séries.
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