Led-Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra
Título original: Led-Zeppelin: When Giants Walked the Earth
Autor: Mick Wall
Editora: Larousse
Lançamento: 2009 (Brasil), 1ª edição
Nº de páginas: 527 +24(fotos)
Sabe aqueles livros bem grossos, que assustam só de olhar? Este é um deles. Mas sabe aqueles que são tão bons que quando você menos espera já passou da metade sem perceber? Idem. Led-Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é uma obra ímpar, sobre um dos maiores fenômenos musicais da história da música. Seu autor, Mick Wall é uma figura carimbada no meio musical britânico. Já trabalhou em revistas especializadas, no rádio e na TV, além de ter conhecido grande parte dos personagens que retrata no livro. Para conhecer melhor seu trabalho acesse seu site oficial.
Embora não seja muito resistente(ao final da leitura o letreiro metálico e as pontas já estavam desgastados), a capa dura da edição brasileira é bem inspiradora, com Jimmy Page no auge da forma, em preto-e-branco, com uma das mãos no alto, como se brilhasse, sugerindo o enorme poder que detinha quando o Led era considerado a maior banda do mundo. na contracapa temos uma foto com Plant e Page, também em PB, em meados de 1970. Um belo trabalho da capista Juliana Carvalho.
Um aspecto interessante do livro são os inúmeros flashbacks em 2ª pessoa, que apesar de serem em grande parte fruto da imaginação do autor(como ele mesmo diz na nota inicial), são totalmente coerentes e muito provavelmente representam o que cada personagem diria, dado o conhecimento acerca de todos adquirido após anos de pesquisas, conversas e entrevistas. Estas são as partes do livro onde pode-se descobrir detalhes de um passado mais distante, ou nem tanto, que não caberiam na narrativa. São como enormes parênteses no texto, num estilo RPG, mudando constantemente a identidade do próprio leitor, que é forçado a se colocar na pele de cada uma das pessoas descritas nas partes em itálico. Um método no mínimo interessante e até incomum.
Aos que ainda não entendem bem o papel de líder e mentor do Led-Zeppelin atribuido ao Jimmy Page, os primeiros capítulos clareiam definitivamente as idéias: Desde os tempos de músico de estúdio passando pela difícil e árdua tarefa de reviver os Yardbirds numa época em que já eram considerados ultrapassados, Page mostrou ao mundo que não só era um exímio músico, como também produtor, negociador e, por que não, pai. O Led Zeppelin, como várias vezes é referido pelo autor, sempre foi o seu bebê, a sua banda dos sonhos, onde poderia finalmente deixar de ser um simples acompanhante contratado para ser um agente influenciador, com inúmeras idéias loucas para devorar o mundo. Impossível não admirá-lo nesse aspecto.
Após a formação definitiva da banda, com os quatro integrantes aparentemente incompatíveis entre si, mas que se descobriram feitos uns para os outros, somados a um empresário mais do que dedicado, surgem as conhecidas histórias das turnês, com shows de mais de três horas de duração, festas, bebedeiras e orgias envolvendo as famosas(mesmo) groupies, que não raramente se referiam ao Led como a banda mais depravada que já conheceram, superando profissionais do ramo, como os Rolling Stones. A interação entre as grandes bandas da época também é um aspecto interessantíssimo, como a amizade de Page com Jeff Beck e Keith Richards, ou as bebedeiras de John Bonhan com Keith Moon, do The Who. A infeliz decisão de não tocar no Woodstock, o processo de gravação de cada disco, bem como as decisões e curiosidades sobre as capas, está tudo bem explicado na obra.
Um conselho aos que não detêm nenhum interesse por ocultismo ou esse famoso aspecto na biografia do Led, em especial, do Jimmy Page: pule o capítulo 9. São 30 páginas de puro Aleister Crowley. Sua vida, obra e legado são explicitados quase que exageradamente. Obviamente é um capítulo praticamente apenas para explicar o Jimmy Page que viria nos capítulos seguintes. A partir daí o ocultismo não se separa mais da trajetória da banda, que em sua fase decadente não raro era chamada de maldita ou agourenta, devido a tantos incidentes ruins, como a morte do filho de Plant, acidentes, ondas de violência e o xeque-mate, com a morte do baterista John Bonhan, que estava cada vez mais mergulhado no mundo do álcool e de outras drogas, além de ter se tornado um grande destruidor de quartos de hotel.
É incrível como o texto de Mick Wall envolve o leitor. Nos últimos capítulos pode-se até sentir um pouco da energia ruim que rondava a banda. A crescente dependência de heroína sofrida por Page, a surpreendente intenção de John Paul Jones de deixar o grupo, a perda do controle dos negócios por Peter Grant devido ao excesso de cocaína, a grande crise de Robert Plant em estar cada vez mais convencido de que todos os que se envolviam com o Led se metiam em problemas. Eram rotineiros episódios como a ocasião em que John Bonhan apontou uma arma para Glenn Hughes, então vocalista do Deep Purple, ou quando alguém lhe quebrava o nariz por se comportar como um ogro bêbado. Ainda assim vemos um lado humano e compreensivo, onde descobrimos que boa parte desse comportamento se devia à saudade de casa e da família.
O livro também é uma ótima fonte de referência a outros artistas. Muitos dos casos de plágio ou de shows em conjunto com outras bandas rendem ao leitor-pesquisador com perspicácia na web algumas pérolas dos anos 60-70, como o Iron Butterfly, Small Faces, Sandy Nelson, Lord Sutch, a C.C.S. e a sinistra trilha do filme Lucifer Rising, assinada por Jimmy Page são alguns dos ótimos (e não muito conhecidos no Brasil) artistas contemporâneos ao Led. Bastam alguns minutos de busca para conhecer versões de músicas plagiadas pelo grupo ou artistas que viram neles grandes concorrentes. O público sempre ganha nesses casos.
Led-Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é um livro formidável e indispensável aos que se interessam de forma não-superficial pelo cenário musical na Europa e EUA durante os anos 60-70 e início dos 80. É uma viagem desde os tempos do recém descoberto blues na Inglaterra até o surgimento do punk. E ainda temos um avanço pós-Led que mostra o que aconteceu a cada um dos integrantes até o recente e lendário encontro na Arena O2 em Londres(2007). Podemos ter uma idéia mais clara sobre o porquê de Robert Plant se recusar a reunir-se de novo com Page e Jonesy e ainda conhecer um pouco sobre a história de seu penúltimo álbum, com a cantora de bluegrass Alisson Krauss. Leia de preferência com a discografia à mão, e buscando os outros grupos na internet. A sensação ao terminar a leitura é de que realmente se fez uma grande viagem... A bordo de um luxuoso zepelim de chumbo.
Título original: Led-Zeppelin: When Giants Walked the Earth
Autor: Mick Wall
Editora: Larousse
Lançamento: 2009 (Brasil), 1ª edição
Nº de páginas: 527 +24(fotos)
Sabe aqueles livros bem grossos, que assustam só de olhar? Este é um deles. Mas sabe aqueles que são tão bons que quando você menos espera já passou da metade sem perceber? Idem. Led-Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é uma obra ímpar, sobre um dos maiores fenômenos musicais da história da música. Seu autor, Mick Wall é uma figura carimbada no meio musical britânico. Já trabalhou em revistas especializadas, no rádio e na TV, além de ter conhecido grande parte dos personagens que retrata no livro. Para conhecer melhor seu trabalho acesse seu site oficial.
Embora não seja muito resistente(ao final da leitura o letreiro metálico e as pontas já estavam desgastados), a capa dura da edição brasileira é bem inspiradora, com Jimmy Page no auge da forma, em preto-e-branco, com uma das mãos no alto, como se brilhasse, sugerindo o enorme poder que detinha quando o Led era considerado a maior banda do mundo. na contracapa temos uma foto com Plant e Page, também em PB, em meados de 1970. Um belo trabalho da capista Juliana Carvalho.
Um aspecto interessante do livro são os inúmeros flashbacks em 2ª pessoa, que apesar de serem em grande parte fruto da imaginação do autor(como ele mesmo diz na nota inicial), são totalmente coerentes e muito provavelmente representam o que cada personagem diria, dado o conhecimento acerca de todos adquirido após anos de pesquisas, conversas e entrevistas. Estas são as partes do livro onde pode-se descobrir detalhes de um passado mais distante, ou nem tanto, que não caberiam na narrativa. São como enormes parênteses no texto, num estilo RPG, mudando constantemente a identidade do próprio leitor, que é forçado a se colocar na pele de cada uma das pessoas descritas nas partes em itálico. Um método no mínimo interessante e até incomum.
Aos que ainda não entendem bem o papel de líder e mentor do Led-Zeppelin atribuido ao Jimmy Page, os primeiros capítulos clareiam definitivamente as idéias: Desde os tempos de músico de estúdio passando pela difícil e árdua tarefa de reviver os Yardbirds numa época em que já eram considerados ultrapassados, Page mostrou ao mundo que não só era um exímio músico, como também produtor, negociador e, por que não, pai. O Led Zeppelin, como várias vezes é referido pelo autor, sempre foi o seu bebê, a sua banda dos sonhos, onde poderia finalmente deixar de ser um simples acompanhante contratado para ser um agente influenciador, com inúmeras idéias loucas para devorar o mundo. Impossível não admirá-lo nesse aspecto.
Após a formação definitiva da banda, com os quatro integrantes aparentemente incompatíveis entre si, mas que se descobriram feitos uns para os outros, somados a um empresário mais do que dedicado, surgem as conhecidas histórias das turnês, com shows de mais de três horas de duração, festas, bebedeiras e orgias envolvendo as famosas(mesmo) groupies, que não raramente se referiam ao Led como a banda mais depravada que já conheceram, superando profissionais do ramo, como os Rolling Stones. A interação entre as grandes bandas da época também é um aspecto interessantíssimo, como a amizade de Page com Jeff Beck e Keith Richards, ou as bebedeiras de John Bonhan com Keith Moon, do The Who. A infeliz decisão de não tocar no Woodstock, o processo de gravação de cada disco, bem como as decisões e curiosidades sobre as capas, está tudo bem explicado na obra.
Um conselho aos que não detêm nenhum interesse por ocultismo ou esse famoso aspecto na biografia do Led, em especial, do Jimmy Page: pule o capítulo 9. São 30 páginas de puro Aleister Crowley. Sua vida, obra e legado são explicitados quase que exageradamente. Obviamente é um capítulo praticamente apenas para explicar o Jimmy Page que viria nos capítulos seguintes. A partir daí o ocultismo não se separa mais da trajetória da banda, que em sua fase decadente não raro era chamada de maldita ou agourenta, devido a tantos incidentes ruins, como a morte do filho de Plant, acidentes, ondas de violência e o xeque-mate, com a morte do baterista John Bonhan, que estava cada vez mais mergulhado no mundo do álcool e de outras drogas, além de ter se tornado um grande destruidor de quartos de hotel.
É incrível como o texto de Mick Wall envolve o leitor. Nos últimos capítulos pode-se até sentir um pouco da energia ruim que rondava a banda. A crescente dependência de heroína sofrida por Page, a surpreendente intenção de John Paul Jones de deixar o grupo, a perda do controle dos negócios por Peter Grant devido ao excesso de cocaína, a grande crise de Robert Plant em estar cada vez mais convencido de que todos os que se envolviam com o Led se metiam em problemas. Eram rotineiros episódios como a ocasião em que John Bonhan apontou uma arma para Glenn Hughes, então vocalista do Deep Purple, ou quando alguém lhe quebrava o nariz por se comportar como um ogro bêbado. Ainda assim vemos um lado humano e compreensivo, onde descobrimos que boa parte desse comportamento se devia à saudade de casa e da família.
O livro também é uma ótima fonte de referência a outros artistas. Muitos dos casos de plágio ou de shows em conjunto com outras bandas rendem ao leitor-pesquisador com perspicácia na web algumas pérolas dos anos 60-70, como o Iron Butterfly, Small Faces, Sandy Nelson, Lord Sutch, a C.C.S. e a sinistra trilha do filme Lucifer Rising, assinada por Jimmy Page são alguns dos ótimos (e não muito conhecidos no Brasil) artistas contemporâneos ao Led. Bastam alguns minutos de busca para conhecer versões de músicas plagiadas pelo grupo ou artistas que viram neles grandes concorrentes. O público sempre ganha nesses casos.
Led-Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é um livro formidável e indispensável aos que se interessam de forma não-superficial pelo cenário musical na Europa e EUA durante os anos 60-70 e início dos 80. É uma viagem desde os tempos do recém descoberto blues na Inglaterra até o surgimento do punk. E ainda temos um avanço pós-Led que mostra o que aconteceu a cada um dos integrantes até o recente e lendário encontro na Arena O2 em Londres(2007). Podemos ter uma idéia mais clara sobre o porquê de Robert Plant se recusar a reunir-se de novo com Page e Jonesy e ainda conhecer um pouco sobre a história de seu penúltimo álbum, com a cantora de bluegrass Alisson Krauss. Leia de preferência com a discografia à mão, e buscando os outros grupos na internet. A sensação ao terminar a leitura é de que realmente se fez uma grande viagem... A bordo de um luxuoso zepelim de chumbo.
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