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» » » » » Da África para os EUA e o mundo: blues, uma viagem musical #09


O Blues tem uma forte vertente no Brasil e muitos são os artistas que se destacam neste cenário. Nomes como Alamo Leal, Jefferson Gonçalves (este apresentando o Blues com forte influência da música brasileira, sobretudo nordestina), as bandas Blues Etílicos e Suburblues, Taryn Spilman, Big Gilson e Celso Blues Boy (in memorian), todos do Rio de Janeiro; o braziliense radicado em São Paulo, Celso Salim; o trio mineiro Rodrigo Nézio&Duocondé Blues e a banda capixaba Big Bat Blues. O país também apresenta uma forte tradição na harmônica, ou gaita de boca. Entre nossos grandes gaitistas destacam-se, além do já citado Jefferson Gonçalves, Flávio Guimarães da banda Blues Etílicos. O Brasil, hoje em dia, oferece todas as condições necessárias para que o Blues possa ser aprendido, desenvolvido e divulgado. Além de ter uma grande quantidade de artistas com ênfase no gênero, como os citados anteriormente, de produzir e importar métodos e livros didáticos que auxiliam em sua aprendizagem e ter anualmente uma grande quantidade de festivais que divulgam o gênero, o Brasil também é rota de shows de grandes artistas internacionais. Exemplo disso foram os grandes ícones que estiveram no país nos últimos anos: Buddy Guy, B.B.King e Eric Clapton.

Jefferson Gonçalves e Leonardo Nascimento: Festival Sesc Rio Blues&Jazz (arquivo pessoal do autor)

Outros elementos característicos do Blues (os quais chamaríamos de “extra-musicais”) são
perceptíveis somente no exato momento da execução e/ou audição, sendo relativamente difíceis de serem aprendidos sistematicamente. É nesse contexto que aparece a improvisação como fator marcante na execução do estilo. No Blues, a interpretação é de suma importância na fidelidade ao estilo. Para se alcançar esta fidelidade, o mais indicado é a audição, sobretudo dos chamados bluesman. O intérprete no Blues tem total liberdade quando da execução de uma obra, não precisando reproduzir fielmente o arranjo, a forma, e, até mesmo a tonalidade da versão original. É algo muito comum no Blues ouvirmos a mesma música em versões totalmente diferentes de artista para artista. Por exemplo, Key to the highway, originalmente composta por Big Bill Broonzy, soa totalmente diferente na versão do próprio Broonzy e na de Eric Clapton. Isto acontece porque Clapton, como intérprete da canção, tem total liberdade em sua condução, como já dito, podendo alterar, acrescentar ou totalmente modificar seu arranjo, forma, tonalidade, etc. Outro grande exemplo é a canção Sweet Home Chicago, que apresenta versão diferente na execução de seu autor, Robert Johnson, e na de Buddy Guy. Os artistas de Blues, de um modo geral, nunca reproduzem fielmente a versão que outro artista dá para determinada canção.

O Blues também apresenta em sua estrutura o que se chama de Break, que é o momento entre o fim de uma frase musical e o início de outra. Chase (1957) diz “... há um considerável intervalo vazio entre o fim duma frase melódica e o começo da seguinte” (CHASE, 1957, p. 414). O Break geralmente dura um compasso, e neste momento, o cantor e/ou instrumentista tem total liberdade de criação. Geralmente, neste momento, a guitarra elétrica ou a harmônica executam melodias que auxiliam o cantor, que muitas vezes também é instrumentista, em sua volta à melodia da canção. Esse momento é importante para o cantor, pois dá a ele um tempo para elaborar suas ideias para a próxima frase ou para se comunicar com o público, encorajando-o e/ou pedindo sua participação na interpretação. Grandes nomes do Blues utilizam o Break com maestria, improvisando virtuosisticamente no instrumento ou na voz. Tendo em vista que o Break faz parte da canção, independente do estilo de Blues, pode-se destacar B.B.King como um artista que utiliza o Break com características pessoais facilmente perceptíveis. Mr. King, geralmente, cria suas improvisações para o Break à guitarra, utilizando pouquíssimas notas e seu vibrato característico. Como exemplo, suas improvisações à guitarra para os “breaks” da canção Blues Man, de sua autoria.

Também acontece no Blues da mesma canção executada pelo mesmo artista acabar “soando diferente” a cada nova execução. Isso se dá porque uma das grandes características da música afro-americana é a participação do público, o que contrasta com a música de concerto. Sendo assim, ouvir um disco de estúdio de Eric Clapton é uma experiência totalmente diferente de assisti-lo ao vivo. O público, no Blues, como herança da música afro-americana, tem profunda importância na interpretação de uma canção e no show e/ou concerto como um todo. Sua participação, seja cantando as músicas junto com a banda, batendo palmas, pulando, ou se manifestando de alguma outra maneira, muito acrescenta na interpretação do artista. Estar em um concerto e/ou show de Blues é “sentir na pele o seu feeling”. Foi o que senti ao assistir a banda Rodrigo Nézio & Duocondé Blues tocando, por exemplo, com participação do gaitista Jefferson Gonçalves, as canções Cocaine, de autoria de Eric Clapton, e Hoochie Cookie Man, de Muddy Waters, no Festival Rio das Ostras Jazz & Blues em 2011. A sensação de liberdade e total improviso que vinha do palco era encorajada e celebrada pela participação do público na arquibancada. O mesmo aconteceu na edição seguinte do mesmo festival quando a banda mineira Big Bat Blues Band interpretou, também com participação do gaitista Jefferson Gonçalves, a canção Got my Mojo Working, de Muddy Waters. Outra grande experiência neste sentido foi assistir a um show de Eric Clapton ao vivo no Rio de Janeiro, no mês de outubro de 2011. A energia que vinha do público contagiava a banda e os músicos respondiam com interpretações impecáveis. Como exemplo, as músicas Old Love e Wonderful Tonight, de autoria do próprio Clapton, foram totalmente ovacionadas pelo público, que cantou junto com o artista, cantarolou seus solos à guitarra e fez com que o sentimento de êxtase e liberdade, tão em vigor nos concertos de Blues, marcasse presença.

Mesmo com todos os recursos tecnológicos que o músico hoje dispõe para auxiliá-lo em sua aprendizagem do gênero Blues, não se deve esquecer a essência do gênero, em se tratando de sua aprendizagem: a audição de seus discos. Foi desta maneira que os grandes artistas do gênero desenvolveram sua arte. Chase (1957) salienta que “ouvir gravações dos grandes cantores de blues é o único meio pelo qual se pode apreender o verdadeiro espírito, a verdadeira textura dessas canções singulares” (CHASE, 1957, p. 421). Sendo assim, em suma, para aqueles que desejam captar a essência do gênero musical Blues, três são os pontos fundamentais: ouvir as gravações dos grandes bluesman, tocar junto com o disco e tocar. Como diz Clapton (2007) “... sentava na sala escutando discos e tocando junto, aprimorando meu ofício... Para desenvolver plenamente a habilidade é preciso interagir com outras pessoas” (CLAPTON, 2007, p. 72, 165 e 166).



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Publicado por I. Malförea

BLUEZinada! é uma zine produzida pela Distintivo Blue e distribuída gratuitamente, desde 2011. Saiba mais sobre a banda:

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