Ari Frello. Foto: Thiago Campos
Com o passar dos anos meu conceito sobre alguns assuntos pertinentes a cena artística nacional mudaram muito, minhas opiniões seguiram por um caminho que não era o mais belo porém concreto. O problema é que lidar com a verdade da vida quase sempre é sinônimo de dor, e acho que é por isso que certos mitos ainda persistem em nosso meio.
Gênio da Lâmpada, Pote de ouro no final do arco-íris e Padrinho Artístico são lendas criadas pelo imaginário popular com o intuito de semear um pouco de fé nos corações das pessoas para que elas não se angustiem tanto com a dura realidade que insiste em bater em nossa porta todos os dias.
Todo artista mais hora menos hora sempre topa com alguém com muitos contatos, que geralmente é um pouco mais velho e que se diz habilitado a levá-lo ao reconhecimento que você ou sua banda tanto merece. E mesmo que no fundo você sinta aquele frio no estômago pelo temor da provável ilusão (que na verdade não passa de uma ilusão de fato), a possibilidade de que todas as injustiças na sua carreira cheguem ao fim é tentadora. Por isso comparo o Padrinho Artístico com Gênio da Lâmpada e o Pote de ouro no final do arco-íris.
Na opinião geral, Padrinho Artístico é um profissional muito bem articulado que é meio produtor musical, meio empresário de bandas, meio descobridor de talentos que pode levar um anônimo ao topo das paradas de sucesso. Esse super-homem já existiu, na verdade tivemos alguns exemplares de pessoas que desempenharam estes papéis, um deles foi Leonard Chess, dono da Chess Records e que foi praticamente responsável por toda uma era do blues, o Blues Chicago. Leonard foi responsável pelo surgimento de Muddy Waters, Willie Dixon, Howlin’ Wolf, Etta James e mais um monte de gigantes da música. Será que nos dias de hoje existem pessoas capazes de fazer história como ele?
A geração do vinil alega que em sua época, tudo era muito mais difícil, desde comprar equipamentos, ter acesso a referências e até mesmo as viagens de uma turnê tinham que ser por terra, devido aos altos custos. Já a geração online alega que se tudo está disponível na rede vivemos hoje uma banalidade generalizada, coisa que dificultou em muito a inovação. O mundo mudou e a minha resposta a pergunta do parágrafo acima é não. Não teremos mais alguém como Leonard Chess!
Sim, você pode até encontrar um bom samaritano que mostrará os vídeos que você produziu( que foram pagos com o dinheiro do seu bolso em doze parcelas no cartão), das canções que você compôs e indicar para um show muito maneiro. Ou uma agência de eventos que verá seus vídeos e te incluirá no cast de artistas para que juntos consigam ganhar um pouco de reconhecimento financeiro, tudo na base da honestidade e como pode perceber em ambos os casos você já deve ter trilhado um tanto do caminho sozinho. Geralmente essas pessoas trabalham muito, tiram poucas férias e são muito ocupadas para jogar conversa fiada.
Então, quando aparecer alguém alegando ser a porta do sucesso em sua vida desconfie, é muito provável que este cara na verdade queira tirar proveito do que você já construiu sozinho, caso aceite a se submeter, rapidamente ele passará a tratá-lo como um saco de bosta. Essa é sim uma das maiores mazelas do mundo artístico atual, investir tempo procurando por atravessadores em vez de construir uma carreira edificada degrau por degrau.
Ari Frello é guitarrista, violonista, gaitista, cantor, compositor, produtor musical e professor de música. Está na estrada desde 2008 e se tornou conhecido por seu trabalho como "One Man Band". Já lançou três álbuns autorais e divulga seu mais recente, Ari Frello One Man Band Take 01, com suas versões de clássicos.
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