O cajón (caixão, em espanhol, pronuncia-se “carrón”) foi inventado no século XIX no Peru, pelos escravos impedidos pela Igreja de usar seus instrumentos africanos, assim como aconteceu nos EUA. Porém, ao contrário dos futuros blueseiros, os negros do Peru colonial continuaram concentrados na percussão e adaptaram as caixas de transporte de frutas e outras mercadorias para extrair sons e utilizá-los em suas manifestações artísticas e religiosas. Simples assim. O instrumento sofreu algumas transformações com o tempo e passou-se a usar cordas de baixo, violão ou esteiras de bateria atreladas à parte interna da tampa, dando o som característico da caixa clara da bateria. Dependendo da região tocada pode-se obter sons graves, como um bumbo, agudos como o da própria caixa ou sons intermediários, como os tons.
Costumo dizer que se for preciso traduzir a percussão num só instrumento, seria justamente o cajón. Isso porque é possível tirar algum som de qualquer região sua, não só do tampo. Hoje em dia é comum ver o músico usando alguns acessórios para complemento, como vassourinhas, pratos de ataque ou chocalhos presos às pernas, simulando um cymbal. Todo cajonero passa pela divertida situação de ver alguém da plateia virando a cabeça com aquela cara de cachorro confuso tentando entender de onde vem tanto som. Sempre haverá muita,mas muita gente nas apresentações tendo sua primeira visão de um cajón. Responder a perguntas também faz parte do trabalho de um cajonero.
O falecido Paco De Lucia popularizou o instrumento no flamenco, gerando até mesmo certa confusão sobre sua origem, que muitos acabam por pensar ser espanhola. Mas o cajón é muito versátil e pode ser usado em qualquer gênero musical. Não há limites para a caixona. É algo tão simples que consegue ser extremamente sofisticado, desde que haja um bom e criativo músico sobre ela. Costumo usar no blues, country, folk, rock e até mesmo jazz. Se bem usado não deve nada a uma bateria. Se você gostaria de ter um e está indeciso se deve ou não comprar, sugiro apenas escolher uma boa marca (há várias brasileiras, de ótima qualidade) ou alguém que saiba realmente fazer e ser feliz. Não é à toa que o cajón hoje é considerado oficialmente Patrimônio Cultural da Nação, em seu país natal.
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