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» » » » » Da África para os EUA e o mundo: blues, uma viagem musical #03


Em The Blues: Feel like going home, com direção de Martin Scorsese, Corey Harris (21 de fevereiro de 1969-), importante bluesman da geração atual, realiza uma viagem pelo sul dos Estados Unidos, e posteriormente, pela República do Mali, país da África Ocidental, com a finalidade de descobrir as origens do Blues. Um outro americano, chamado Alan Lomax (15 de janeiro de 1915 - 19 de maio de 2002), musicólogo, pesquisador e arquivista estadunidense da música folclórica norte-americana,a partir de 1930,primeiro em companhia de seu pai, John Lomax, e, posteriormente, sozinho,começou a realizar importante viagem pelo Sul dos Estados Unidos registrando as manifestações musicais daquela região, no que seria chamado de Arquivo de música folclórica americana. 

Sendo assim, Corey Harris encontra com alguns bluesman ainda vivos na época- o documentário foi feito no ano de 2003-como Taj Mahal, Sam Carr, Otha Turner, etc. Tocando, conversando,ouvindo suas histórias e estando em locais onde anos atrás o Blues começou a ser gerado, Corey nos deixa importantes informações a respeito de sua história. Para ele, o Delta do Mississipi é a região americana onde se deu a origem do gênero. Mas, também, Harris aponta a República do Mali, no Oeste da África, como o país que mais enviou escravos para o sul dos Estados Unidos- foi a partir das pesquisas de Alan Lomax que, primeiramente, o Blues foi remontado às origens africanas.

Seguindo viagem então para o Mali, Corey Harris conversa com alguns artistas locais, e, assim, tem a confirmação para alguns de seus questionamentos. Em conversa com Corey, Toumani Diabate, músico local, diz:

Meu pai me contou, e ele, por sua vez, ouviu do pai dele, que as pessoas vinham à África para capturar escravos em Goree, no Senegal, e levá-los para trabalhar nas plantações. Você pode capturar as pessoas, pode tirar suas roupas, pode tirar seus sapatos, pode tirar seu nome e até dar outro nome. A única coisa que não se pode tirar é a sua cultura.

Já Habib Koité, outro entrevistado, diz:

As semelhanças entre o Blues e a música de Mali estão no sentimento de melancolia e no modo musical, na escala- muitas músicas de Mali usam a escala pentatônica, assim como o Blues. A população africana que foi para os Estados Unidos foi separada, e não podia se comunicar pela linguagem, para tramar uma revolução. Acho que as pessoas tentaram se confortar através da música.

Plantação de algodão em West Point, Mississipi - 1908

Otha Turner, importante bluesman, sobretudo na drum music (música de tambor), também em The Blues: Feel like going home, relata a vida dura que levava: “Eu trabalhava em três propriedades todo dia. Meu pagamento no sábado era de oito dólares. Estou vivendo, colhi algodão do outro lado da ponte para L.B.Buford, ganhando de 12 a 15 centavos por fardo, e vivia assim” (SCORSESE, apud Otha Turner). Já B.B.King, no documentário The Blues: The Road to Memphis diz: “Acho que, trabalhando no arado, eu andava uns 8 km por hora, trabalhava 12 horas por dia, fazia uns 100 km por dia. Seis dias por semana. Fiquei pensando, 16 anos fazendo isso, praticamente dei a volta ao mundo seguindo uma mula.” (SCORSESE, 2006, 8´42´´)

Não se pode negar a importância que a questão escravocrata tem na história do Blues. Por
causa dela, muitos negros africanos foram retirados de sua pátria, vendidos ou trocados e levados para trabalharem como escravos no sul dos Estados Unidos. Neste cenário de humilhação e exploração, através da cultura que trouxeram de sua terra natal, somada com a de seus senhores, os negros criaram as worksongs, os Negro spirituals, o Holler (tido como um tipo solo de worksong, caracterizado pelo grito), e, tudo isso, originaria o Blues.

No capítulo Blues do livro The New Grove Gospel, Blues e Jazz, Paul Oliver cita: “Os Blues têm andado por aí por séculos e séculos, e os blues foram escritos anos e séculos atrás- eles estiveram sempre aqui” (OLIVER, 1997, p. 44). Oliver ainda diz: “Mas não resta nenhuma prova para confirmar que o blues tenha existido antes da Guerra Civil durante a década de 1860, ou, até mesmo, na segunda metade do século 19” (OLIVER, 1997, p. 44). O que se percebe é que não há exatidão sobre a origem do Blues. Por exemplo, para alguns, a terra do Blues é o Delta do Mississipi, para outros é o Delta do rio Yazoo.

O que se tem em consenso é que o primeiro Blues foi publicado por volta de 1912 por W.C.Handy com o título de Memphis Blues. Handy, que nasceu em Florence (Alabama), em 16 de novembro de 1873, sendo filho de um pregador metodista, se autodenominava o pai do Blues e compôs Memphis Blues para uma campanha eleitoral do prefeito Edward H.”Boss” Crump. Sendo assim, Memphis Blues passou para a história como o primeiro de todos os Blues (uma ressalva é que, como o Blues é música aprendida auricularmente, provavelmente por volta de 1912 outros Blues já haviam sido compostos). O que se atribui a Handy é que ele foi o primeiro a escrever o Blues em partitura. Há uma lenda na história do Blues que diz que Handy ouviu o Blues a primeira vez quando viajava clandestinamente em um vagão de trem. Muggiati (1995) cita esta lenda narrada por Handy:

Uma noite em Tutwiler, quando eu lutava contra o sono na estação à espera de um trem com nove horas de atraso, a vida subitamente me agarrou pelo ombro e me acordou com uma sacudidela. Um negro esguio e desajeitado tinha começado a dedilhar um violão ao meu lado enquanto eu dormia. Suas roupas eram trapos, os dedos dos pés saíam pelos buracos dos sapatos. Seu rosto continha algo de tristeza milenar. Ao tocar, ele apertava as cordas do violão com uma faca da maneira popularizada pelos guitarristas havaianos, que usavam barras de aço. O efeito foi inesquecível (apud MUGGIATI, 1995, p. 24).

Sobre Memphis Blues, Chase (1957) faz as seguintes considerações:

Em 1909, a Banda de Handy foi contratada para a campanha eleitoral pelos partidários dum candidato a prefeito de Memphis chamado E.H.Crump. Handy pôs-se a escrever uma canção de propaganda que devia não só ajudar a eleição do Sr.Crump, como também prover a sua banda de um número de sucesso. O que daí resultou foi uma peça originariamente denominada “Mister 11 Crump”, porém publicada três anos depois sob o nome de “Memphis Blues” (CHASE, 1957, p. 419).








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Publicado por I. Malförea

BLUEZinada! é uma zine produzida pela Distintivo Blue e distribuída gratuitamente, desde 2011. Saiba mais sobre a banda:

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